(Re)nascimento em 2020

Ao longo da História reconhecemos diversos períodos de pandemias multirregionais. A “Peste Negra”, por exemplo, matou cerca de 75 milhões de pessoas até o século XVIII. Formalmente conhecida como “Grande Mortalidade”, esta doença tinha um sintoma marcado por hemorragias subdérmicas escurecidas, a necrose acral. Alguns cientistas registraram que este surto foi causado pela bactéria Yersinia pestis e foi disseminada por pulgas e ratos.

Esta pandemia gerou uma mudança na estrutura social da Europa e causou perseguição generalizada de minorias, como judeus e leprosos, acusados por iniciarem a transmissão. Revoltas camponesas iniciaram o nascimento da luta de classes e também causou grande impacto psicológico da época. O progresso humano, normalmente, é seguido de eventos traumáticos. Há uma relação de causa e efeito entre o Renascimento e a Peste Negra. Algumas condições como guerra, fome e clima contribuíram para a gravidade de transmissão desta pandemia. Isso resultou numa crescente vulnerabilidade humana a doenças e instabilidade no sistema imunológico. As principais consequências foram o despovoamento, efeitos socioeconômicos, perseguições, mudança religiosa, efeitos psicológicos e seleção natural.

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Capela Sistina: obra renascentista de Michelangelo (tour virtual)

O período do Renascimento, passagem entre a Idade Média e a Idade Moderna, foi o primeiro grande movimento artístico, científico, literário e filosófico da modernidade. Nasceu na Itália, em Florença, nas primeiras décadas do século XV. Foi a principal revolução artística e seus efeitos perduraram durante séculos.

Segundo o pensamento da Renascença, a razão era a manifestação da aproximação do ser com Deus. A capacidade de questionar o mundo dava razão ao neoplatonismo. Já o humanismo, era um aspecto fundamental às obras. Vemos esta representação nas situações cotidianas reproduzidas pelo naturalismo. O aspecto humanista inspirou elogios às concepções artísticas da Antiguidade Clássica, conhecida como Classicismo. O humanismo era o espírito do Renascimento. Dando sentido a valorização do homem e da natureza, em oposição ao divino e sobrenatural, conceitos da Idade Média.

A valorização das ações humanas possibilitou um diálogo com a burguesia e as ações globais ganharam foco neste processo de transformação. Durante os séculos XIV e XVI os burgueses entusiastas com esta temática, passaram a financiar artistas e cientistas. Um outro aspecto fundamental era o hedonismo, que visava a busca por prazeres, fundamental para destacar o individualismo da modernidade.

As principais características do Renascentismo são: racionalidade, dignidade do Ser Humano, rigor científico, ideal humanista e reutilização das artes greco-romana. Juntamente com a exploração de novos continentes, a pesquisa científica gerava confiança no homem e a Reforma Protestante expandia. Desta forma, o estudo de Deus como Ser Supremo foi substituído pelo estudo do ser humano, também de forma anatômica. Os retratos detalhistas, intensidade emocional, iluminação, criaram uma forma de explorar as fases da vida com um olhar artístico.

A ascensão da classe artística italiana foi percebida em cidades comerciais, como Gênova, Veneza, Milão, Florença e Roma. A circulação de riquezas e ideias deu origem ao mecenato: patrocínio às obras e estudos renascentistas. Tal profissionalização foi responsável pela divisão do movimento em: Trecento, Quatrocento e Cinquecento. Estabeleceu princípios, métodos e formas originais, típicas e comuns. As principais fontes foram a reutilização (da arte grega e a arte romana) e perspectiva (regras matemáticas e desenho).

O legado literário do Trecento pode ser destacado pelas obras “Odes a Laura”, de Petrarca, e “Divina Comédia”, de Dante Alighieri; bem como as pinturas “O beijo de Judas”, “Juízo Final” e “A lamentação”, de Giotto di Bondoni.

Durante o Quatrocento, temos a “Mona Lisa”, de Leonardo da Vinci, e “Elogio à loucura”, de Erasmo de Roterdã. O período final, o Cinquecento, alcançou diversas regiões. Chegando a Portugal, rendeu a obra “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente; e “Os Lusíadas”, de Luis de Camões. Os quadros “Adão e Eva” e “Melancolia”, de Albrercht Dürer; “Cristo Morto” e “A virgem do burgomestre Meyer”, de Hans Holbein, foram os destaques na Alemanha. Referente a literatura francesa, “Gargântua e Pantagruel”, de François Rabelais, foi a maior representação. Na área científica, a teoria heliocêntrica, defesa de Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e Giordano Bruno, abalou o monopólio do conhecimento, controlado pela Igreja Católica, até este período.

As principais características da área da arquitetura são: ordens arquitetônicas, arcos de volta-perfeita, simplicidade na construção, autonomia e construção de palácios, igrejas, vilas, fortaleza e planejamento urbano. Na pintura, os destaques são na perspectiva, uso do claro-escuro, realismo, manifestações independentes, estilo pessoal, uso de tela e tinta à óleo. As esculturas renascentistas são reconhecidas por sua inspiração, naturalismo, técnica, monumentalidade, esquemas compostos e expressões viris.

O Renascimento levou o homem a uma nova posição a ser ocupada no mundo. Os princípios disseminados na arte, cultura e ciência, questionaram valores que até hoje causam ressonância na história ocidental. Um movimento econômico, político e cultural, que gerou modificações estruturais na sociedade.

Pandemia, crise econômica, posicionamento político, traumas psicológicos, fuga artística, reconexão espiritual… Algo em comum com 2020?

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